Tu e Eu

Surgiste. Assim, como a invariável madrugada, surgiste, nasces-te, apareces-te tu, Romeiro, das sombras vindo. Vieste. Abri-te as minhas portas e perguntei: "Quem és tu Romeiro?"
- "Ninguém".
Ninguém e toda a gente. Ninguém que a minha loucura sonha, ninguém em quem a minha insanidade acredita. E tu, romeiro, porque vens até mim? Porque me fazes acreditar nas tuas palavras, porque me fazes divagar, pensar por momentos que Tu és ELE, porque me fazes morrer a seguir e render-me ao ninguém que vive em ti?
E pudesse ser eu também um romeiro sem rosto, nem nome, nem morada. E pudesse eu também esmolar de vida as almas do purgatório. E pudesse eu tembém ter em mim todos os mundo, todos os nomes, todas as virtudes e defeitos, toda a humanidade, toda a animalidade, toda a existência como tu tens em ti Romeiro. E pudesse eu esconder-me nas tuas trevas e ter o teu travo a sonhos e a felicidades simpáticas. E pudesse eu acreditar nas tuas palavras, acreditar quando me divinizas, quando te curvas e me sublimas. E pudesse eu dar o que tu dás.
Quem me dera ver a vida como a vês. Quem me dera um dia acreditar nessa tua divina simpatia, nessa tua clara escuridão, nessa tua inesxistência que me deixa abismada e embalada. Quem me dera um dia ser Romeiro e Ninguém e Feliz!
Tu que tudo sabes, fala-me um pouco mais dos teus caminhos, dos meus futuros, tira-me do marasmo do presente Romeiro. Em troca dou-te a minha Verdade. A tal que nunca conhecerás. Afaga-me os cabelos e diz que vai tudo ficar bem, qua amanhã serei alguém, que amanhã o sol vai nascer de novo e que o mundo não deixou de girar por causa da minha fívola dor. Deixa-me aninhar no teu manto de fumo e fz-me adormecer sem lágrimas, sem sonhos, sem nada. Apenas com a tua simpatia Romeiro. Apenas com a tua Simples Simpatia.
'Por mais que tanjas perto/Quando passo, sempre errante,/És para mim como um Sonho/Soas-me na alma distante/A cada pancad tua/Vibrante no céu aberto/Sinto mais longe o passado/Sinto a saudade mais perto'