Saber Viver é Não ter Medo de Morrer
Um comboio chegava à estação. Ela entrava sem destino mas com todos os destinos do mundo no coração desfeito. Sentada, abria um livro que lhe prometia retomar a sua vida em 30 dias, em 30 passos. Ela queria acreditar que era possível voltar a viver em tão pouco tempo. Ela queria acreditar que era possível percorrer outros caminhos que não o dele, que não aquele que ela percorria todos os dias, que era possível passar e não parar e não tocar. Queria acreditar que muitos viriam depois dele, queria amar aquele outro que lhe piscava o olho lá à frente, queria ser a bela rapariga que beijava o namorado no comboio, queria ser a criança que lá fora seguia pela mão doce e segura do pai... Mas era apenas ela. Ela, que tinha à sua frente um livro que lhe prometia retomar a sua vida em 30 dias, em 30 passos. Ela, que pisava já as pedras descalças que a levavam de novo ao túmulo. Ela, que não temia a pior das mortes porque desejava a mais intensa das vidas. Ela, que morria a cada passo, por saber que a porta iria estar fechada, por saber que a porta iria sempre estar fechada quando fosse a vez dela de bater... Se ela pudesse ser a outra... Se ela fosse aquela, e a aquela, e a tal, e as outras todas que vivem! Se ela não se chamasse assim, se não se vestisse assim, se não tivesse aquelas feições, aquele cabelo, aquele corpo... Se ela soubesse ser perfeita, se soubesse dizer a coisa certa, se não falhasse, se tivesse nas suas mãos o tempo, a razão, o amor... Se fosse da boca dela que o "amo-te" tivesse que sair... Se vosse à porta dela que viessem tocar... Se fosse por ela que os anjos esperam nas esquinas... Se fosse a ela que os deuses querem ver...
Chegou ao seu destino. Pegou no livro que lhe prometia retomar a sua vida em 30 dias, em 30 passos e saiu do comboio. A cidade estava linda. A cidade está sempre linda e cheia daqueles nadas que a tornam tão única. Entra num qualquer café e sentada numa mesa qualquer com um pedaço de papel branco e uma caneta em frente, inicia a sua declaração de independência: "Eu, Mafalda Sofia Fraústo Garcês, declaro que estou farta de sentir que o meu coração está menos que inteiro. Vou deixar de me sentir limitada, diminuída, incompleta. Tenciono sentir-me crescer de novo. Quero amar e ser amada, de forma duradoura, equitativa e compensadora. E talvez mesmo de forma apaixonada, se o meu coração se revelar capaz de correr de novo o risco. Durante os próximos 30 dias, vou fazer todo o trabalho necessário para a reparação do meu coração, de modo a conseguir seguir em frente com a minha vida. Vou juntar de novo as peças de uma forma melhor do que alguma vez fiz. Vou-me tornar eu própria: autónoma e completa."
2 Comments:
É impreconante a inteligencia deste texto... começo a achar sinceramente que nem para escrever sirvo.Quando penso que ter encontrado a vocação aparece akguem muito melhor, há tanta gente a escrever porque haveria de eu saber!
Não é um comentário de inveja mas antes de admiração, pela forma como escreves te descreves, e sentes o k estás a escrever.Bom resta-me admirar os que escrevem melhor k eu, como tu!Beijos de amizade sincera!
oi Mafalda!kuanto a forma k escreves e msm mtooo Boa tal como diz o Sapito e com toda a razão! kuanto aos teus sentimentos so axo k tens e de seguir com tua vida em frente e o lixo deixa-lo pa tras! JInhos
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