Onde foram Todos?

Já não tenho forças. Grito no meio da multidão e ninguém me ouve, ninguém me vê, ali, a implorar por ajuda, ninguém repara nas minhas lágrimas, nas minhas dores, nas minhas marcas. Sinto-me absolutamente perdida. Não tenho razão para lutar, para tentar sequer vencer a escuridão em que mergulharam os meus sonhos, os meus desejos. E dizem-me que tudo vai melhorar. Como, se a cada passo que dou sinto a luz mais distante de mim? Tornei-me pobre porque me tiraram a minha única riqueza. Tornei-me fraca porque me tiraram a minha força. Tornei-me um Nada porque me tiraram o meu Tudo. E eu fiquei assim, caída num chão gelado, esmolando atenção... Ninguem. Tanta gente e ninguem. E passas tu, do alto da tua frieza e desamor. E olhas-me com o desdém que se tem aos pedintes. Depois de passares pergunto-me se olharás sequer para trás... Pelo menos essa última esmola...Não olhas. Nem tu nem ninguém. E eu morro, ali, na pedra gelada de uma escada qualquer, de uma rua indefinida, cheia de vultos de transeundes que transeundam e não vêm. e não me vêm. E não vêm o meu sangue que pisam, e não vêm, a água das minhas lágrimas (ah, pensava que era chuva...) que os encharca e não vêm os cacos do meu coração que com os pés dasfazem... Um dia tudo acaba. Vejo o mundo mas ninguém me vê.
"Jaz morto e arrefece" Onde foram todos? Será que sentem o odor ácido e açucarado do meu sangue nas vossas mãos?