Uma certa Noite…
Deitada na minha cama, dormitava. As insónias atormentavam-me, e o pensamento fugia para os lugares onde a alma se sentia livre para nós os dois. O atendedor de chamadas encarregou-se de me despertar a atenção: Vem ter comigo ao sítio do costume, assim que estiveres pronta. Não e não estou louco, sei que horas são! Beijos! Ok...pensei para mim...virou morcego de vez, vive de noite. Conhecia-o, era bem capaz de me acordar a meio da noite, talvez para me mostrar uma nova estrela que tinha descoberto ou para me dar a conhecer uma nova música.
Vesti-me, nada de especial, apenas para ir ter com ele ao sítio onde nos costumava-mos perder em conversas, abraços, promessas de amizade eterna e risos, sim risos...ele era a pessoa que me fazia rir nos momentos de maior tristeza, era ele que entendia a minha alma, sem eu lha entregar em pedaços. Bati com a porta sem querer e ouvi alguém resmungar. Enquanto esperava pelo elevador, pensei que ele era a pessoa que me preenchia na totalidade...fiquei a vaguear na memória até que me lembrei que tinha esquecido as chaves em casa...Calma, há-de arranjar-se uma solução. O meu impulso, por mais que eu quisesse arranjar qualquer coisa para entrar em casa, era entrar no elevador e ir ter com o meu amigo...nem o senso comum me ganhou, ficou derrotado á porta do elevador...entrei e carrreguei no 0: Que raio estou eu a fazer...era suposto estar em pânico e a tentar entrar em casa, ao menos para trazer as chaves! Saí do prédio com o pensamento… confuso e estranhamente acordada. Caminhei em passos largos, meti as mãos ao bolço e murmurei uma canção para me embalar do susto de mim mesma. Eu não era assim, no meu estado normal, escolheria telefonar á minha mãe e pedir a cópia das chaves de casa, mas desta vez...escolhi o oposto...lixei-me para o caso e queria era ver o meu amigo.
Cheguei finalmente ao local dos encontros, um jardim enorme...cheio de sombras das árvores, que a lua fazia ao entrar propositadamente na intimidade dos ramos. Sentei-me num banco partido, que por acaso costumava ser aquele em que nos sentava-mos. Vi então um vulto a vir na minha direcção, era ele, sorridente e afável como sempre. Numa voz doce, cumprimentou-me, Olá pequerrucha, não te assustes comigo tá bem? Afinal são só 3h40 da manhã e assim ficamos a conhecer o nosso sítio escondido na madrugada! Hã que te parece? Olhei para ele e desatei a rir. Continuei a olhá-lo e ele lá prosseguiu (deve ter visto em mim um anseio curioso...eu já não aguentava mais...que queria ele? Ou seria só mais um encontro?)
Ele - Olha fofa, acordei de noite e não aguentava mais, tenho que fazer isto dê por onde der...e agora é que me vais achar completamente maluco e chanfrado das ideias! -Sorriu.
Eu - Não diz lá... - disse eu bocejando do sono que agora vinha de mansinho...
Ele - Não é dizer é fazer...dás-me a mão e vens comigo. - Agarrou-me na mão, e puxou-me para me levantar. Caminhamos até á relva, e assim só por acaso os regadores estavam ligados (típico aquela hora).
Eu - Não me leves para aí! Está tudo molhado! Vamos ficar todos encharcados! - Disse eu meio alarmada.
Ele - Vá lá, deixa-te de pieguices, é só um banhinho, não vais morrer por isso, deixa a responsabilidade aí fora e salta para aqui comigo. Vamos fingir que somos duas crianças que não pensam sequer que podem ficar doentes. Até vai saber bem... - ele já lá estava, com o seu sorriso inconfundível (e agora que lembro, lindíssimo, o sorriso de um anjo), a chapinhar na relva molhada e com a roupa já a pingar.
Eu - Tá bem pronto... - tirei o casaco impaciente, deixei-o á borda do canteiro e saltei para junto dele. A sensação de liberdade que senti realmente era linda e afinal não era assim tão mau.
Ele - Vês? É bom uma pessoa nem sempre ser certinha! Dá-me a mão! - Começou a cantar a música que adorava e começamos a dançar ao som da melodia que ele fazia. Desatei a rir, como sempre ele tinha o dom de o fazer! Abraçados ele sussurrou-me ao ouvido - Agora escuta com atenção. Ouve a água a cair na relva, ouve o som dos grilos e ouve a lua a chamar por ti.
Eu - Sim, ela está mesmo a chamar por mim, até sabe o número da minha conta bancária! - exclamei em tom de ironia!
Ele - Então é porque não estás a ouvir com atenção, ela está mesmo a chamar por ti... - e começou de novo a cantarolar, para acompanhar a nossa dança.
Apesar de começar a ficar irritada, estava leve ao dançar ali com ele e com os jactos de água a bater de mansinho na minha face, nas minha mãos. O cabelo escorria, o que deixava uma sensação de liberdade.
Eu - Oh, tá bem pronto. Mas afinal não querias falar comigo? Não querias adiar, mas estás só a falar no que não é suposto...
Ele - Ainda não percebeste? Não era bem uma "conversa" que queria ter contigo. Isto que estou a fazer, era o que te queria "dizer", tens que ouvir a lua a chamar, tens que ouvir os grilos a cantar e sobretudo, tens que ouvir a lua...sem a ouvires, nunca me poderás entender.
Fiquei em silêncio, e lendo-me a mente, continuou, cantarolando muito baixinho, dançando pé ante pé, e deixando-me compreender o que realmente era suposto compreender. Começei então a ouvir os barulhos da noite, a água a sair dos regadores automáticos e a bater contra a nossa roupa, os grilos lá ao fundo, as luzes dos candelabros a sussurrar e a murmurar umas com as outras (parecia contarem uma história, parecida com a minha), e a lua a chamar por mim.Ele - Se alguma vez tiveres medo ao adormeceres, lembra-te que podes também chamar pela lua...ela estará sempre ali ao teu lado e eu com ela estarei, a ver-te dormir e a cantar-te assim como o fiz ainda agora. Dar-te-ei todas as noites uma estrela para não te sentires sozinha e hás-de um dia perceber que essa estrela te mostra a criança que ainda podes ser...olha para ti, onde estás...com essa idade e a dançar de madrugada no meio de um regador automático com um maluco que te acordou para te dizer estas parvoíces! - sorriu novamente - Boneca...nunca te esqueças de mim, quero que te recordes sempre desta nossa dança e que quando olhes para o céu, eu seja a fantasia de criança que sempre sonhaste ter. Eu sei que não gostas de mim como eu queria...shhh..não digas nada...mas também sei que me amas como um grande amigo e isso basta. Shhh...o teu silêncio é a minha espada de ouro a partir de agora. E continuou cantando, agora uma música diferente...a música que me fez perceber o que realmente era suposto entender. (Teria havido melhor encontro…)
* E pronto...acabou ali a história de alguém que só se queria despedir, de forma a deixar um sorriso e não um choro. Já em casa, dormi com a alma do anjo que me acordou, bem apertada ao coração. Agora todos os dias, volto ao jardim, ao banco quebrado do parque e há relva molhada, pelos jactos de água. Mantenho-me em pé, a escutar as gotas de água que escorrem em mim e a olhar a lua vejo aquele que um dia me fez ver que nem tudo é para ser levado a sério. Aquele que um dia era suposto ter amado, se eu soubesse amar. Ele, obviamente, soube amar. As insónias fugiram de cada estrela dada todas as noites e o sono foi levado pelo carreiro das sombras da lua e do jardim em que me encontro todas as madrugadas, ás 3h40 da manhã. Para sempre irei lembrar-me dele e daquilo que ele queria para mim e que não soube como, até ao dia de hoje.
Assim recordo uma certa noite, após a sua morte, pois os anos ensinam coisas que os dias desconhecem!*
Adeus.
7 Comments:
se calhar adaptado, mas está excelente este texto!
uma história incrível...gostei imenso.parabens aos donos do blog
manecas,viseu
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
tão bonito!
Romeiro parabens pelo teu texto.
adoro-o e adoro-te!
Excelente.
Bem escrito, embora para mim um post que tenha mais de 15 linhas seja um excesso, mas contudo fica o apontamento de estar bem conseguido.
Parabens aos 2 blogers!
boa piminha ganda historia...ta mta gira..profunda e sincera..mt bem continua o bm trabalho e nunca deixes de ouvir a lua e sntir as estrelas;)
gora pdx ir br o meu clica no meu nome e da uma saltada kuandu poderes...na boa tnx tmp!!!
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