A estória de um contador de histórias

Era uma vez um contador de histórias. Não importa onde vivia, que idade tinha, nem mesmo o seu nome importa. Só importa a sua história.
A estória deste contador de estórias é a história das suas estórias. Ele é o capuchinho vermelho e o lobo mau, ele é o principe encantado e a bela adormecida, ele é a rainha malvada e a pobre Alice, ele é a lebre e a tartaruga... ele é tudo sem ser coisa nenhuma. Ele, ele é apenas um simples contador de estórias que nunca se importou muito com a sua história, nunca se preocupou com rótulos, com o ser bonzinho ou mau, com o ser princípe ou ladrão... apenas se preocupou em ser ele próprio. Sempre. E ele é todo uma mistura de bom e de mau, de noites frias e chuvosas e dias ensolarados e felizes... Ele é o mesmo quando se senta numa pedra e olha a imensidão de crianças que se sentam na relva para ouvirem as suas estórias e quando numa qualquer manhã de Junho atravessa uma estrada movimentada na grande cidade. Porquê? Porque o contador de estórias sabe que a sua história é amoral, sabe que não pode ser exemplo de ninguém senão dele mesmo, sabe que não vale a pena ter gavetinhas e etiquetar pessoas, sabe que é perder tempo catalogar feitios, se eles são isso mesmo: simples feitios.
É por isso que o contador de estórias vive a sua história, é por isso que ele a pinta com as mais belas cores, é por isso que ele É (em vez de apenas pensar que poderia ser...), é por isso que ele perde tempo (ganha tempo) a namorar uma ovelha e a ver crescer as flores. É por isso que ele diz às crianças que as nuvens são feitas de algodão doce e que as estrelas são pirilampos que não queres que tenhamos medo do escuro (ah! e a lua é um queijo!). É por isso que o contador de estórias é um homem sem história. É por isso que o contador de estórias só tem sonhos.
"- Só as crianças é que sabem do que andam à procura - disse o principezinho. - São capazes de perder tempo com uma boneca de trapos que, por isso, passa a ser muito importante para elas. Se alguém lha tira, desatam a chorar...
-Que sorte que as crianças têm!"